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Expedições

Exploração do Rio Preto

Itanhaém, SP – Rio Preto

por Almir Bento de Freitas

Eu e Alexandre fomos os dois canoístas do grupo RA a fazer o reconhecimento desta inesquecível expedição. Saímos bem cedo no dia 11 de setembro de 2012 e seguimos à Rodovia Mogi-Bertioga, que só pela beleza da serra, suas cachoeiras e Mata Atlântica, já vale o passeio. Entre chuviscos, relâmpagos, trovoadas e muita chuva com poucos momentos de tempo seco, prosseguimos. Deixamos para trás Mogi das Cruzes, Biritiba Mirim, Bertioga, Guarujá, Santos, Cubatão, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá e finalmente chegamos ao destino: Itanhaém.

O destino não estava tão perto assim. Na verdade, longe e incerto. Ao cruzarmos a ponte do Rio Itanháem, entramos no bairro Cibratel e seguimos em sentido à região serrana do município. Não demorou muito e o asfalto acabou, e como em um passe de mágica, entramos em uma região rural – sítios, fazendas, chácaras, gado, caprinos, ovinos e suínos, e muitas plantações de agricultura familiar. O ar rural dominava, percebido no trato entre as pessoas e na sua expressão. O que nos impressionou foi a quantidade de areia nas ruas. Parecia haver muito mais areia nas ruas do que nas praias por onde passamos. A cada trecho percorrido, uma mistura de apreensão, ansiedade e medo, se misturava à nossa vontade de avançar para atingir nosso objetivo.

A chuva já não era mais a nossa companheira, substituída pela areia fina. Não demorou muito, e o carro encalhou! Atolou. Ninguém fotografou, pois nessa hora só conseguíamos pensar na areia, no carro atolado e nenhum guincho à vista nem a prazo. Um carro que nunca passava: somente marcas de rodas no chão. Solução: descemos do veículo, pegamos os remos dos caiaques, e com as pás, começamos a cavar. Assim conseguimos liberar as quatro rodas do Palio. Em seguida, fiquei atrás do carro para empurrar e, com o Alexandre no volante e muita calma, o carro começou a andar.

Mesmo com todos os problemas, tomamos a decisão de ir em frente, pois era questão de honra terminar o que tínhamos planejado. Uma expedição dessa conta com o inesperado. Com o trabalho do “guia” Alexandre que traça as rotas, as coordenadas, a quilometragem e o tempo aproximado da expedição), sempre temos previsões. Mas nem o guia e nem o GPS conseguiriam prever a quantidade de areia nessa região e os obstáculos que poderiam surgir.

Adiante, nessa mesma rua de areia, nos deparamos com o primeiro riacho, foi a primeira parada para fotografias. Um rio com águas escuras: pretas e avermelhadas. Não sabemos o motivo, mas nos arriscamos a dizer que trata-se, talvez, da formação rochosa da região.

Um pouco à frente, a terra estava mais firme e faltava pouco para chegarmos ao Rio Negro. No meio do caminho tinha uma pedra! Drummond foi lembrado na hora em que encontramos um muro, uma enorme porteira na rua e um enorme segurança. A rua continuava, assim como os postes de iluminação pública: mas o segurança nos barrou. Poderia ser o primeiro caso de uma rua pública controlada por alguém que fez dali uma terra privada? Nossa arma foi a palavra, que não surtiu efeito: dali não passamos. O bom senso foi a marcha ré do carro, e partimos em busca de outra coordenada.

Entramos em outro caminho, mas fomos desencorajados por um velho senhor, afirmando que por ali estaríamos mais de 300 metros longe do Rio Negro. Para piorar, ainda disse que não teríamos garantia de encontrar nosso carro na hora do retorno.

Já tínhamos percorrido mais de 10 quilômetros na estrada de areia e realizamos a primeira assembléia de duas pessoas. Eu falei, Alexandre escutou; Alexandre falou e eu escutei. Tomamos então a seguinte decisão: voltar todo o caminho até o asfalto e ir em direção à prainha de água doce do Rio Itanhaém. A partir dali, poderíamos “caiacar” em direção ao Rio Negro até a altura da Fazenda Bargieri, cerca de 10 quilômetros rio acima. Depois, voltar os 10 quilômetros rio abaixo!

Como saco vazio não pára em pé e muito menos rema, decidimos comer um prato com carne seca na manteiga, cebola e uma salada. Gastamos toda a nossa manhã nesse percurso e agora tínhamos apenas o período da tarde para fazermos a expedição pelo Rio Negro e voltar antes do anoitecer.

Deixamos o carro em uma lanchonete próxima e “bora” colocar os caiaques na água, pois o tempo urgia! Iniciamos a subida, e não demorou muito para avistarmos o Rio Negro, que desemboca no Rio Itanháem. Um rio largo, manso e de águas escuras, para fazer jus ao nome. Logo encontramos uma riqueza de flora e principalmente fauna, da qual já conhecíamos algumas aves: socó, savaco, bem-te-vi, rolinha, beija-flor, guaxe, sabiá, garça, quero-quero, sanhaçu, saíra , martim-pescador, anu, pássaro preto, patos, marrecos selvagens e muitos outros. Alguns peixes até saltaram perto do caiaque. No mais, muitas remadas e muita paisagem para ser apreciada no trajeto.

Passamos por alguns lugares abandonados, casas isoladas e placas de fazer rir. Vimos que um “proprietário” coloca uma placa onde se lê: “É proibido pescar aqui!”. Quer dizer: o cara cerca um pedaço de terra e acha que levou o rio de brinde?!

Fizemos duas paradas para descansar, lanchar e hidratar o corpo, aproveitando para contemplar os ninhos de guaxes que mais pareciam um conjunto habitacional. Reanimados, retomamos a remada. Avistamos uma ponte que lembrava um filme do Indiana Jones: grande, bem estruturada e que chamava a atenção pela sua imponência. Do lado direito, um belo restaurante à beira do rio, com alguns patos nadando: paisagem bucólica! Muitos palmitos e algumas canoas. Descemos para pedir informações sobre o local e fomos encaminhados para o engenheiro agrônomo da Fazenda Bargieri. Fomos bem recebidos pelo Valmir que nos contou um pouco sobre a fazenda. Entre as atividades principais, destaque para a plantação, viveiros de mudas de palmito, lago de pesca, tanques de engorda de peixes, caprinos, búfalos e bovinos. A Fazenda Bargieri desfruta de um ar rural em pleno município de Itanhaém e possui apartamentos térreos que estavam sendo limpos por uma equipe de funcionários enquanto estávamos ali. Esperamos que a fazenda abra as suas portas para pessoas que queiram um local agradável, boa estrutura e pessoas simpáticas durante a sua estadia.

O tempo passa, a Terra gira e anuncia o fim da tarde. Nos despedimos e “bora” descer o rio, pois não estávamos equipados para remar no período noturno. A descida não facilitou muito, pois o rio fica no nível do mar e totalmente sujeito à subida e à descida da maré. No caminho, a ausência do vento proporcionou a captação de imagens belíssimas espelhadas na água. O tempo não foi nosso parceiro e tiramos poucas fotos. O sol já se ia e chegamos na prainha do Rio Itanhaém sem a sua companhia. Recolhemos os equipamentos, lavamos os caiaques e preparamos a volta para São Paulo. Ao voltarmos, uma parada rápida no centro de Praia Grande para jantar e compra de docinhos, pois a vida tem que ser adoçada para manter as nossas remadas. Chegando a São Paulo, desço no Brás e Alexandre segue viagem até o seu ponto final em Mogi das Cruzes.

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