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Expedições

Retomando longas travessias: 30 km

Bertioga, SP – Rio Itapanhaú

Já fazia certo tempo que a vontade de realizar grandes travessias estava sendo fomentada entre alguns dos remadores da RA Canoagem. A maior facilidade logística, o longo tempo sem realizar uma grande descida no belo Rio Itapanhaú (última em 2010), e a biodiversidade encontrada entre os trechos de Mata Atlântica e Manguezal foram alguns dos motivos que incentivaram a realização dessa nova expedição. Mas havia outra razão: esta expedição serviria também como preparação física para outra travessia, ainda maior, que será registrada em nossas páginas assim que concretizada…

Foi um belo e abençoado dia, sem chuvas, nem sol (sim: o sol escaldante pode ser um obstáculo em uma expedição de um dia inteiro). Chegando ao ponto de partida, Alexandre e Davi, incumbidos da tarefa, carregam os equipamentos da estrada até a margem do rio. Trabalho pesado, pois os três caiaques mais os suprimentos tiveram que ser carregados por um quilômetro, que é a distância que separa a rodovia da margem do rio. Bem sabíamos que existe outro ponto de acesso, pouco à frente, mas ele não nos interessava, pois o trecho mais belo da travessia são exatamente esses quilômetros iniciais. Enquanto os dois se ocupavam das cargas, o terceiro remador (Eduardo) levava os carros até o ponto de encontro, no centro de Bertioga. Impossível não citar aquelas que o acompanharam e foram responsáveis pelo transporte e apoio: Dulce e Sonia, familiares que, remando ou não, apóiam muito e auxiliam sempre a equipe RA Canoagem, de todas as maneiras possíveis.

Os dois primeiros remadores (Alexandre e Davi) tiveram que fazer um revezamento de idas e vindas buscando e carregando equipamentos. Isso fez com que a caminhada dos dois fosse multiplicada por cinco. Saldo final para os dois: 3 km carregando peso e 2 km buscando equipamentos. Enquanto isso, o terceiro remador (Eduardo) teve tempo de sobra para levar o carro até Bertioga e voltar ao ponto de início da expedição. Com uma precisão incrível, Eduardo chegou à margem poucos segundos após os dois primeiros. Talvez, se tivessem marcado um horário, não chegariam tão sincronizados.

Os caiaques são carregados e começa a descida. As águas cristalinas, as praias de areia clara e o verde da Mata Atlântica contrastam-se e formam uma paisagem digna de cartão postal. Não apenas os novos visitantes ficam vislumbrados com o cenário, mas os antigos também. Em 40 minutos, divididos entre remadas e pausas para fotos, os três chegam à base de captação de água da SABESP, onde está a “cachoeira”. Na verdade, uma barreira de pedras represa as águas do rio Itapanhaú, mantendo o nível necessário para a captação. Após essa barragem, as águas escorrem entre as pedras formando uma “mini-corredeira”, que carinhosamente alguns chamam de cachoeira.

No trecho seguinte, os remadores perdem desempenho, pois encontram um rio completamente represado. Depois de quase três horas de travessia e aproximadamente um terço da expedição completada, os remadores encontram uma rampa, que levava a um barco abandonado (parcialmente incendiado). Por parecer um lugar ermo, os três pensaram ser um lugar tranqüilo para fazer um lanche, mas a alegria durou pouco. Assim que a comida começou a ser preparada, saíram das casas dos arredores (que pareciam vazias) alguns moradores, a princípio incomodados com a presença dos remadores e dizendo que os mesmos “não poderiam estar ali”. Certa tensão para os três, tentando explicar que estavam seguindo para Bertioga, e que pararam apenas para esticar as pernas e comer um lanche. Depois de muita conversa e pedidos de desculpas por “parar sem avisar”, os três prepararam suas refeições. Essa foi uma parte boa da expedição, pois equipados com fogareiro e até uma “prensa”, o trio fartou-se com um delicioso misto quente, excelente pedida para aquele dia nublado e frio.

Após o lanche, os três prosseguiram a expedição, e quando se aproximaram de uma região na qual as casas estão margeando o rio, constataram uma triste cena: a poluição cada vez maior da região. O esgoto de muitas casas ribeirinhas está sendo despejado diretamente no rio Itapanhaú, sem qualquer tipo de tratamento. Infelizmente, mais uma vez, a ocupação humana desordenada faz de vítima o nosso mais rico bem natural: a água, tão essencial à vida, e ao mesmo tempo tão desrespeitada e desvalorizada.

Aos poucos, os membros da equipe vão demonstrando cansaço, e infelizmente, um dos remadores decide parar antes do objetivo final (quando já se marcavam 20 km de travessia realizada). Ainda na parte “urbanizada” do rio, em um determinado ponto, a margem estava a pouco mais de meio quilômetro da rodovia. Essa facilidade de acesso transformou esse ponto no local ideal para uma pausa. Lá o grupo decidiu o próximo passo: o mais cansado iria a pé até a rodovia pedir o resgate. Enquanto o primeiro estivesse na rodovia aguardando a chegada do veículo, os outros dois remadores continuariam rebocando carga e o caiaque vazio até o próximo ponto de encontro: a ponte sobre o rio Itapanhaú, situada 10 quilômetros adiante.

Foi uma longa travessia, com a maré cheia e muito alta (talvez pelas fortes ressacas dos últimos dias). Acima dos 15 km percorridos, o grupo remava em um rio que alternava em momentos de águas paradas e momentos de água subindo. Por incrível que pareça, a água subia o rio, contrariando a força da gravidade, naquele trecho que estava a mais de 20 km da foz, na cidade de Bertioga. Não havia espaço para parar de remar, pois o caiaque voltava para trás. Haja resistência! E tem gente que fala que uma travessia dessas é fácil porque é “só descer o rio”…

Depois de mais de 8 horas de travessia entre remadas e paradas, e 30 km percorridos, todos se encontram na ponte, em uma marina abandonada, que outrora foi um bom ponto de partida de outras expedições. Não era o objetivo final, mas foi o possível, afinal já era noite, e até a praia seriam mais 6 km para remar no escuro. As adversidades e mudanças de planos como estas podem ser úteis de duas maneiras: a primeira é lembrar-nos de que nem sempre estamos no controle das situações, por mais que desejamos essa sensação de poder e onipotência; a segunda é exercitar o “jogo de cintura” e buscar tranqüilidade mesmo em situações inusitadas. Ambas podem trazem benefícios, não só neste tipo de viagem, mas como reflexões para a vida. E uma terceira situação, não menos importante, que também vale ser citada: ficou a vontade de chegar até o fim. Talvez em outro dia, e você conosco… Seja como for, será mais uma página escrita no livro de histórias da RA Canoagem!

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