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Nossa História


Como tudo começou…

Por Alexandre Ricardo Alves

"Peço licença aos leitores para redigir este texto na 1ª pessoa do singular, pois é impossível que alguém entenda o que é a RA Canoagem sem saber do histórico da minha vida e de alguns familiares".

Acho que o gosto pela água e pelo verde vem desde a infância. Há um local em especial onde desenvolvi essa paixão: a chácara de meus pais, que hoje tem o nome de "Chácara Cio da Terra".

Eu não poderia falar de meu amor pela natureza sem antes falar de meu pai: Eduardo Nelson Alves, que iniciou a vida profissional em meio à terra, como um bóia-fria na região de Birigui – SP, que sempre teve o sonho de possuir um pedaço de terra, para que pudesse cultivar e colher em seu próprio terreno. Nascido em Bilac – SP e criado em Birigui, trabalhou duro desde menino e veio para a capital São Paulo com aproximadamente 18 anos, na busca por uma vida melhor e desacreditado por familiares e amigos. Nessa idade, já era arrimo de família, e trabalhou ainda mais em diversas ocupações até conseguir trazer sua mãe e irmão pequeno para a capital.

Quando chegou à São Paulo, não havia cursado nem a quarta série primária (que corresponde hoje ao quinto ano do ensino fundamental). Trabalhando muito e estudando muito, conquistou graduações em Pedagogia e Matemática, o que lhe proporcionou trabalhar como funcionário público efetivo em escolas da Rede Estadual e Municipal de Ensino de São Paulo. Em alguns períodos lecionou também em escolas particulares, chegando inclusive a ocupar o cargo de diretor em escolas das duas redes públicas.

Casou-se com Sonia Maria Peixoto Alves, minha mãe, que também veio de uma infância com poucos recursos. Outro exemplo de dedicação e superação, pois aos 18 anos, vítima de uma paralisia até hoje não diagnosticada, ficou acamada e tetraplégica. Com muita fé, otimismo, força de vontade e ajuda de familiares e amigos, conseguiu aos poucos recuperar alguns movimentos e retomar a sua vida e a busca pelos seus sonhos. Assim como meu pai, minha mãe só teve a oportunidade de estudar na fase adulta (também desacreditada por muitos). Após essa paralisia, também se tornou professora e, como meu pai, começou a trabalhar nas escolas públicas das redes Municipal e Estadual de São Paulo.

Na minha vida, os dois são exemplos vivos de que basta trabalhar e se dedicar. Essas duas atitudes são as responsáveis por transformar sonhos em realidade. Trabalhando arduamente, conseguiram conquistar sua casa, carro e realizar o sonho de ter seu pedaço de terra: a chácara hoje chamada “Cio da Terra”, localizada em Biritiba-Mirim, cidade situada a aproximadamente 70 km da capital São Paulo.

Água e Peixes

Nessa chácara passei a maior parte dos finais de semana de minha infância e adolescência. O lugar era simples no início: apenas um pedaço de terra com eucaliptos, um trecho de Mata Atlântica nativa e um fio d’água cheio de mato e taboas, que se parecia mais com um brejo do que com um lago.

Foi em meio a esse ambiente, ajudando e assistindo meu pai a transformá-lo no que é hoje, que fui aprendendo a gostar e a respeitar a natureza, e a sintonizar-me profundamente com a água. Ainda me lembro de meu pai nos ensinando a pescar: catar minhocas, preparar varas, dar nós em anzóis, aprender algumas técnicas de pesca e até a limpar e preparar o peixe para comer.

Gradativamente o prazer no contato com a água foi aumentando, e outras atividades foram surgindo, como a prática da pesca com a peneira (popularmente chamada de “bater peneira”), que consiste em entrar na água, enfiando a peneira sob a vegetação das margens para coletar os peixes sem machucá-los. Bater a peneira na beira do lago e nos córregos dos arredores da chácara tinha dois propósitos muito especiais: conseguir novas espécies em outras bacias da região e também pegar jovens exemplares, sem que ficassem machucados pelo anzol, para que povoassem tanto o aquário que possuíamos na casa na capital como o tanque de chão feito por nós (um buraco que cavamos com enxada), que até hoje fica próximo ao lago da chácara Cio Da Terra.

Meus parceiros de aventura eram meus irmãos, e de vez em quando alguns amigos que passavam o final de semana conosco. Lembro que esperávamos com ansiedade pela chegada à chácara, e a primeira coisa que fazíamos na chegada era pegar a peneira e o balde e calçar as botas, as quais meu pai fazia questão que utilizássemos para nossa segurança. Indo para longe ou perto, o importante era voltar carregado de peixes ou pelo menos com alguns exemplares “raros”.

As primeiras embarcações

Aos poucos, o desejo de aprofundar o contato com a água foi aumentando, e começaram a surgir ideais de como ampliar a exploração do meio aquático. Foi a partir dessa necessidade que começou o meu envolvimento com embarcações, que posteriormente foi canalizado à canoagem. A primeira idéia que tivemos (inspirada no livro "Os Pequenos Jangadeiros", lido por mim e meu irmão mais velho Eduardo Junior) foi construir uma jangada, que era na verdade uma amarração de troncos de eucaliptos muito improvisada. Como era de se esperar, não deu certo, pois o eucalipto não flutua muito bem, e ficamos em cima da jangada com a água nos joelhos, enquanto ela estava completamente submersa.

Mas a vontade de construir uma embarcação era grande, e assim criamos um novo protótipo, desta vez construída em bambu. Essa jangada fez sucesso e durou muito tempo, mas é claro que um dia teve seu fim. A terceira idéia de embarcação foi engenhosamente arquitetada por meu pai e pelo meu irmão caçula, Gustavo. Era nada mais nada menos que o teto de uma Kombi, que teve as colunas dos vidros cortadas por um serralheiro e acabou se tornando uma bela e leve jangada. Ela transportava tranquilamente mais de cinco pessoas, com direito até a uma cadeira de praia para minha mãe se sentar.

O primeiro contato com um caiaque!

Muito tempo depois, nós tivemos o primeiro contato com o caiaque. Um primo meu, de uma cidade do interior, veio para a nossa chácara e trouxe um feito de fibra. O caiaque foi estreado com um propósito nada comum: carregar aguapés e matos que estávamos tentando tirar do lago para aumentar sua área navegável. O caiaque se tornou praticamente uma "draga de limpeza".

Depois de muito brincar na lagoa da chácara, levamos o caiaque até um clube próximo: o Conjunto Turístico do Alto Tietê, hoje rebatizado como Vale Encantado Country Club. Lá existe um lago muito maior, onde poderíamos usufruir melhor da navegação com o caiaque. Vale ressaltar a importância desse clube pra mim, pois, antes da chácara, meus pais, avó, irmãos e eu passávamos as férias acampando por lá. Ali, naquele lago, consegui entender um pouco mais o que um caiaque poderia me oferecer.

Lembro até hoje de ficar remando de maneira “insana” durante uma hora sem parar, e sem perceber o tempo passar. Eu era apenas uma criança e foi meu primeiro contato com esse esporte. Estava escrito que a canoagem iria marcar e mudar a minha vida para sempre.

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